... Eu sinto muita saudades da época em que Dias Gomes fazia
suas novelas com um quê folclórico, nordestino, bem-humorado, politizado e
inteligente. Obras como Saramandaia, Roque Santeiro, Dona Flor e seus Dois
Maridos, O Bem Amado, O Pagador de Promessas são joias preciosas. Sinto
saudades do tempero de Gabriela e da picardia de Capitães de Areia de Jorge
Amado e também saudades de Ariano Suassuna e seu Auto da Compadecida e O Santo
e a Porca. Mas, quando me deparei com A Lenda do Cangaceiro sem Cabeça, de Ivan
Dos Santos, o flash-back dos bons tempos veio à flor da pele. No alto dos meus
70 anos, eu fiquei arrepiada, chorei de alegria ao ler A Lenda do Cangaceiro
sem Cabeça, pena que a minha volúpia pela leitura reduziu meu tempo de deleite
para dois maravilhosos dias, nem me lembrei da artrite, do reumatismo e demais
transtornos que idade nos traz. Sei que sou ranzinza, antipática, antissocial e
arrancar um elogio de minha boca é algo raro. Meus ex-alunos diziam que eu
andava com uma placa escrita "Mantenha a Distância" cravada na testa,
hoje essa frase está tatuada em todo o meu espírito. Entretanto, diante dessa
obra deliciosa eu só posso dizer: Que bom que o Brasil tem Ivan dos Santos!
Ainda há esperança para nossos leitores, basta eles aproveitarem. Embora eu
ache que isso já seja algo muito difícil, tamanho o celeiro que a mídia
manipuladora anda criando nas pastagens brasileiras. Desculpem-me, mas serei
sempre hostil contra a ignorância política deste país, é meu jeito de ser, de
protestar...
Historiadora - Áurea Assunção - Brasília